O que a morte extinguiu, o amor reassumiu. O que nela se perdeu, por ele foi reencontrado. O que nela anoiteceu, nele ganhou luz. O itinerário pascal transfigura o “imaginário” da fé, do ser humano e do próprio rosto de Deus. «Ser criado» e «ser ressuscitado» exprimem uma dinâmica comum: o que somos, somo-lo pelo amor. É por ele que o mundo ganha tecido, a vida pulsação, as relações ânimo.
A Noite Maior da fé evoca todo esse alvoroço de
recriação através dos quatro momentos da liturgia da vigília. Assim,
começamos na noite para sermos introduzidos na luz (liturgia da luz);
estávamos envoltos em silêncio, até que a Palavra irrompeu (liturgia da
palavra); mergulhados num útero de morte, fomos fecundados pela vida
nova (liturgia baptismal); famintos de felicidade, recebemos Deus como
festim de eternidade (liturgia eucarística).
A evocação implícita dos clássicos elementos
constitutivos da natureza (fogo, ar, água, terra), a inclusão dos
aspectos a um tempo cénicos e sedutores latentes nos jogos de sensações
(o cheiro do lume e do incenso, os matizes de luz, o aumento do número
de protagonistas – desde o escopo mínimo do círio, à invocação da
«inumerável multidão dos santos») transporta-nos para uma paisagem
inédita de intimidade com Deus. Estamos, pois, nas grandes núpcias de
Deus com a humanidade e com toda a criação. Porque o amor transborda
pela eternidade afora.
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